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Panorama do Futuro do setor de Telecomunicações na América Latina

As Oportunidades e os Desafios do setor de Telecomunicações na América Latina por Lourival José Passos Moreira, Membro Fundador do Tudo Sobre IoT

Em agosto de 2025, realizou-se no Rio de Janeiro, mais uma edição do Telco Transformation LATAM, promovido pela Conecta Latam, que reuniu mais de 800 executivos e 95 especialistas palestrantes das operadoras, do governo, da indústria e de empresas provedoras de soluções e serviços de telecomunicações. Profissionais de diversos países da América Latina, desde o Chile até o México estavam presentes. O objetivo foi discutir e promover a transformação digital e a sustentabilidade do setor. Foram dois dias de abrangentes e profundos debates sobre 5G, inteligência artificial, segurança digital e outros tópicos atuais, como conexão via satélite. A audiência reuniu um grupo diversificado de profissionais, que incluiu executivos das operadoras, líderes de tecnologia, especialistas em regulamentação, elaboradores de soluções e analistas de mercado.

A implantação e capilarização do 5G na América Latina (LATAM), acompanhada da emergência de tecnologias digitais transformadoras, em especial da Inteligência Artificial, e de crescente novas demandas, como a da Internet das Coisas (IoT), configuram um cenário desafiador de necessidades prementes de modernização das redes, de aperfeiçoamento de mecanismos de segurança, de estreitamento de colaboração entre agências de regulação e de ampliação de modelos de negócios. Foi neste contexto que o Telco Transformation LATAM 2025 foi realizada, abordando tópicos essenciais, como a monetização versus otimização dos custos. Ocorre em um momento especial para as operadoras, que enfrentam uma estagnação nas receitas e margens cada vez mais pressionadas, e buscam inovadoras estratégias para transpor o desafio de equilibrar a inovação tecnológica com a necessidade de garantir a viabilidade financeira de seus investimentos, especialmente na modernização das plataformas core. Duas questões centrais movimentaram as apresentações e as discussões:

  1. "será que as operadoras têm um problema de monetização, ou é hora de focar em custos, produtividade e simplificação?"; e
  2. "como enfrentar os desafios do mercado e prosperar em um cenário de rápida mudança?".

As reflexões sobre as novas possibilidades de transformação e sobre a busca de soluções inovadoras permearam todas as sessões do encontro.

O Tudo Sobre IoT (TSIoT), nesta jornada, reforçou o seu compromisso com a inovação e o desenvolvimento do ecossistema de conectividade e transformação digital na América Latina. Foi apoiador oficial do Telco Transformation LATAM 2025 e esteve presente nos dois dias do evento, com a participaçãp de três membros do Masterthings, sua rede de pessoas e empresas. Participaram Guido (Junior) Fontgalland, fundador e Diretor Executivo do Instituto Mutare e OO.Run - EdTech ("Educational Technology¨), o Professor Doutor Lourival José Passos Moreira, Coordenador Executivo do Portal de Divulgação Técnica e Científica academy.tec.br; e Marcel Wajnsztok, fundador e Consultor Especialista da MH Salestec (Franquia Leads2b).  Observadores atentos e abertos à colaborar e a estabelecer novas e significativas conexões, ampliaram e aprofundaram a participação da Comunidade TSIOT no setor. 

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Figura 1 – Marcel Wajnsztok, Guido Fontgalland e Lourival Moreira (Representação do TSIOT na Conecta LATAM)

A palestra de abertura do encontro apresentou as mudanças no Mercado de Telecomunicações da América Latina. Ari Lopes, líder da prática de provedores de serviços do mercado das Américas da consultoria OMDIA, fez uma análise estratégica sobre a nova configuração do setor na região, com foco nas transformações recentes e nos desafios emergentes para operadoras e investidores, abrangendo: o panorama atual do mercado de telecom na América Latina e projeções de crescimento; a performance das principais operadoras da região; os planos de redução de despesas de capital (CAPEX) de grandes grupos para o período 2024–2026; a reestruturação da Telefónica na Argentina, Colômbia e Peru; uma avaliação do nível de competição nos mercados latino-americanos; e os feitos da concorrência predatória sobre a sustentabilidade das operadoras em mercados chaves. Destacou em suas conclusões os seguintes pontos:

  1. o crescimento positivo de receitas das operadoras no mercado da América Latina;
  2. as operadoras de telecomunicações (Telcos) encontram-se no meio de um ciclo de redução de CAPEX que durará até 2026;
  3. neste sexto ano de disponibilidade comercial do 5G na América Latina, poucas inovações de serviço ocorreram;
  4. evidências do mercado global mostram que existem casos de sucesso de crescimento das telcos em receitas não de telecomunicações;
  5. aquisições, falências e saídas tornam o mercado da América Latina mais concentrado; e
  6. concentração pode ser inevitável, mas não indesejável, se conduzir a players mais sustentáveis. 

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Figura 2 – Palestra de abertura (KEYNOTE: Mudanças no Mercado de Telecomunicações da América Latina)

Em seguida à palestra de abertura, a questão "Monetizar ou Otimizar? O Futuro das Telcos na América Latina" foi tema em painel com especialistas da Nokia, Movistar Perú, MINSAIT, Liberty Latim América e ANTEL Uruguay. O pano de fundo das discussões foi a estagnação de receitas e margens cada vez mais pressionadas, o momento decisivo enfrentado pelas as operadoras da região, e o anúncio por parte de algumas empresas de cortes no CAPEX  para o período de 2024–2026, evidenciando  a urgência de se repensar estratégias. Foi colocado em pauta o seguinte desafio:

"será que o caminho passa pela monetização de novos serviços, ou o foco deve estar na eficiência operacional, redução de custos e simplificação de estruturas?".

Os seguintes tópicos foram abordados: 

  1. automatizar o acesso e desligar o legado - acesso (RAN) representa o maior custo operacional- modernizar rapidamente, desligar 2G/3G onde viável e automatizar falhas, sites e consumo energético podem gerar alto impacto em OPEX;
  2. TI mais simples, modular e nativa em cloud - é fundamental eliminar sistemas legados e duplicados (BSS/OSS), migrar para arquiteturas modulares, virtualizadas e cloud-native, unificar camadas de dados e descomissionar o que não gera valor;  
  3. automação do backoffice - finanças, RH, jurídico e compras precisam embarcar em uma nova onda de produtividade com uso de IA, APIs e serviços compartilhados;
  4. portfólio enxuto e rentável - reduzir a complexidade de planos e ofertas com baixa performance e focar em soluções que geram margem real; e
  5. foco no core - rever diversificações desconectadas (mídia, adtech, marketplaces) e redirecionar capital para iniciativas com sinergia direta com o core telco.

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As demais apresentações foram organizadas em torno de três eixos temáticos condutores principais: Cibersegurança , Transformação Digital  e Modernização das Redes. O salão de Conferências do Hotel Windsor Oceânico foi dividido em três palcos simultâneos, cada um dedicado a um daqueles eixos, a saber, respectivamente:

  • Palco 1 Security & Fraud;
  • Palco 2 Digital Transformation: AI Big Data & Analytics;  e  
  • Palco 3 Network Transformation.

Esta divisão possibilitou aos participantes acompanharem diferentes trilhas, dada a amplitude de abrangência, diversidade e profundidade de temas tratados. 

Cibersegurança

O eixo Cibersegurança abordou desde tendências emergentes em segurança até estratégias e mecanismos de prevenção e mitigação de riscos. Destaque-se a mesa "Security & Fraude", presidida por Guido Fontgalland, membro do Masterthings, que liderou e conduziu a sessão com um painel e uma apresentação.  O painel de discussão "IA – Aplicações de Caso na Prevenção a Fraudes na América Latina", que reuniu especialistas da Argentina, México e Uruguai, apresentou e discutiu casos de uso reais na qual a inteligência artificial tem desempenhado um papel fundamental na detecção e prevenção de fraudes no setor. A apresentação, feita por representante da ICONECTIV, Chile, abordou o combate a fraudes nas comunicações. As demais sessões cobriram importantes tópicos como:

  • riscos cibernéticos da atualidade na rede;
  • adoção segura de IA empresarial;
  • o verdadeiro potencial da IA para revolucionar a prevenção de fraudes no setor financeiro e seu impacto nas decisões estratégicas;
  • Aplicações de caso de uso da IA na prevenção a fraudes na América Latina;
  • Resiliência; e
  • O desafio do deepfake na biometria facial.

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O segundo eixo temático, Transformação Digital, foi muito rico e ilustrativo em painéis e apresentações, que abordaram:

  1. a aplicação da IA na automação de processos de negócio, atendimento e nas redes;
  2. casos de sucesso em soluções para B2B (exemplos concretos de inovação, geração de valor e aumento de eficiência no atendimento ao cliente corporativo);
  3. aplicação da IA nas rotinas de operações;
  4. construção de redes multivendor em nuvem; 
  5. interações com os clientes por IA Generativa; 
  6. agentes de IA em negócios; 
  7. a prestação  de melhores serviços à sociedade por Agência Reguladora  pelo uso de Inteligência Artificial;
  8. caminho evolutivo da IA rumo a redes autônomas confiáveis; 
  9. o futuro da experiência do cliente em um ambiente altamente automatizado; e
  10. a transformação digital em B2B.

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Figura 5 – Sessão do eixo temático Transformação Digital.

Modernização das Redes

O terceiro eixo, Modernização das Redes, iniciou-se com um painel lançando um olhar reflexivo e crítico sobre o uso das novas redes na América Latina, onde importantes e instigantes questões foram postas em discussão, que envolveram:

  1. as estratégias para o futuro da conectividade; 
  2. a penetração das redes na América Latina;
  3. os investimentos em espectro e infraestrutura como entraves ao avanço mais acelerado; 
  4. a ausência de uma “killer app” e modelos de negócio escaláveis que impulsionem a demanda pelo 5G;
  5. a competição assimétrica com serviços de streaming over-the-top (OTTs), hyperscalers e webscalers que atuam com menos restrições;
  6. o impacto das políticas públicas e da disponibilidade de espectro no ritmo da inovação;
  7. a consolidação do mercado de provedores, e como equalizar as ofertas de serviços sem impactar preços;
  8. o papel da eficiência operacional e da redução de despesas operacionais (OPEX) na sustentabilidade das redes; e
  9. as aplicações da AIOps (Artificial Intelligence for IT Operations). 

Também neste eixo foram apresentados casos reais de automação zero-touch e gestão unificada, do core ao edge, com uso de edge e cloud computing em operações de redes 5G; a maturidade, expansão e sustentabilidade de redes neutras na América Latina; a infraestrutura digital para a era da IA (Datacenters, 5G, Satélites) e o futuro da conectividade. Ainda um painel geral discutiu a combinação da IA com o 5G em redes privadas, como motor de inovação e vantagem competitiva nas empresas.

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Figura 6 - Uso das novas redes na América Latina

Ao final do primeiro dia, um painel debateu se o caminho seria evoluir de Telco (empresa tradicional que fornece conectividade e infraestrutura de telecomunicações) para TechCo (empresa focada em tecnologia, dados e inteligência, oferecendo serviços digitais integrados e valorizados pelo cliente). Participaram profissionais da TIM BRASIL,  CPFL ENERGIA, INATEL e TELECALL. Importantes tópicos foram colocados em discussão:

  1. mudança tecnológica e redesenho do modelo de negócios; 
  2. evolução cultural nas empresas de telecomunicações;
  3. mudanças na perspectiva do cliente e da rede;
  4. principais fatores que impulsionam a transição do setor;
  5. tecnologias emergentes mais relevantes para o futuro das empresas de tecnologia; e
  6. tecnologia como habilitadora (enabler) para monetização e eficiência em custos no novo cenário das telcos.

Perspectivas do Mercado Telco para 2026

O painel final de fechamento no segundo dia, com analistas da América Latina, lançou um olhar prospectivo sobre o mercado: "Perspectivas do Mercado Telco para 2026". Pontuou as oportunidades de negócio impulsionadas pela evolução tecnológica; as tendências e projeções globais para o setor de telecomunicações; a inovação em modelos de negócio e estratégias digitais; o desenvolvimento e crescimento do mercado de 5G na América Latina e o panorama e evolução da banda larga fixa na região. As principais tendências apontadas pelos analistas da GlobalData, Omdia, Frost & Sullivan e FABRIC  foram:  

  1. previsão para o setor de uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 5% em receitas em dólares;
  2. a estratégia das prestadoras de serviços de telecomunicações de usar inteligência artificial generativa;
  3. IA tornando o ambiente mais competitivo, com nível de exigência mais alto e competição mais agressiva; 
  4. grande aceleração quando casos de uso de IA deixarem de ser provas de conceito e permearem toda operação, a área de desenho de rede, o suporte ao cliente e finanças;
  5. crescimento de 30% de vídeo e gaming;
  6. formação de um cenário de latência zero, com o aumento de centros de dados, edge computing, fibra ótica, cabos submarinos e outros fatores;
  7. necessidade de tratar dados em parceria com terceiros, uma vez que as telcos são atrativas por terem "dados entrando" ;
  8. movimento de acomodação, para que as operadoras possam participar das vantagens que as big techs e as donas dos apps estão levando em competição assimétrica; e
  9. possíveis mudanças na estrutura de mercado, que tende a ser menos pulverizado e mais consolidado.

Conclusão

Em conclusão, pode-se afirmar que o Telco Transformation LATAM 2025 propiciou um espaço de discussão de relevantes questões, de reflexão sobre as novas possibilidades de transformação e de busca de soluções inovadoras que permitirão às operadoras enfrentarem os atuais desafios do mercado e prosperarem neste cenário de rápidas mudanças, adaptando-se a novos modelos de monetização e a ofertas convergentes. As apresentações e discussões mostraram ser fundamentais uma maior integração da TI ao negócio, capaz de lidar com grandes volumes de informações de maneira segura e orientada por dados, e uma implementação de redes 5G de forma econômica e eficiente. Também a proteção contra fraudes e ameaças cibernéticas recebeu destaque como um ponto crítico, enquanto as operadoras precisam manter a satisfação do cliente e cumprir rigorosas regulamentações.

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Figura 7 – Espaço de trocas e reflexões na busca de soluções inovadoras.

O encontro representou uma oportunidade enriquecedora para significativas aprendizagens, networking e compartilhamento de melhores práticas. As apresentações e discussões estratégicas realizadas geraram valiosos subsídios que contribuirão para moldar o futuro setorial na região. A presença do Tudo Sobre IoT foi importante para compartilhar experiências e saberes, para trazer aos membros da comunidade uma visão ampla e atual do quadro do setor de telecomunicações na América Latina, e para embasar as possíveis contribuições da comunidade na construção deste futuro promissor, mas cheio de desafios.

Agradecemos ao autor do artigo, Professor e Doutor Lourival José Passos Moreira, pela contribuição.

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Em 28/02/2024 às 16h27 - Atualizado em 29/02/2024 às 11h28